Ser vegetariano não tem nada de pose - É questão de mostrar postura, contra a matança de animais e contra a devastação do meio ambiente
A cena é corriqueira. Ao servir minha mulher e a mim em restaurantes, garçons colocam à minha frente o prato ornado com filé ou outra carne qualquer e, à metade dela a escolha vegetariana. Impulsivamente está nos afirmando que carne é para macho. Assim como discussão sobre a crise do Corinthians.
Apesar de o Brasil ocupar, segundo o grupo de pesquisas Ipsos, a vice-liderança entre os países em que a população tem a maior propensão em se tornar vegetariana - 28% -, só atrás dos EUA, ainda vigora no cidadão médio a estúpida filosofia camisa-desabotoada-peito-peludo-corrente-de-ouro de que vegetais são para quem abocanha fronhas.
Não poderia me importar menos com o que pensa esse mesmo cidadão médio. Mas, burrice incomoda. Muito. Sou obrigado a reagir.
Bois são mortos em fila, com marretadas ou disparo de pistola de ar comprimido no cocuruto. Porcos, da mesma maneira, mas têm de ser jogados em água fervente, para separar o espesso couro da carne. Peixes morrem asfixiados. Galinhas decepadas.
Nas linhas acima estão as principais razões que me fazem vegetariano. Tive consciência disso ao nove anos, quando assisti no Fantástico ("o show da vida") à matança de bebês-foca a pauladas no Canadá.
Se conto isso sou questionado em relação ao sentimento das plantas, ao serem arrancadas ou cortadas pela raiz. Se alguém me mostrar o sistema nervoso central, que responde pela dor, de uma planta, passo a me alimentar na mesma hora de barro.
Mas e a lei da natureza, do mais forte se alimentar do fraco? Respeito, desde que a pessoa passe então a compartilhar o habitat daquele que satisfaz sua fome e o abata em condições iguais.
A informação que mais me diverte é a de que só na carne é encontrado um nutriente (geralmente falam "uma proteína") essencial ao ser humano. Se alguém me mostrar essa tal proteína, racho uma picanha no alho com o gênio. A única propriedade nutricional superior da carne é empacotar o ferro de uma maneira que o organismo humano o absorva mais facilmente. Mas, se você consumir ferro por meio de feijão ou folhas verde-escuras com algo rico em vitamina C, como um copo de suco de laranja, estará ok.
Noves fora, é por isso que enxergo com o mesmo grau de estranheza um porco ou um cachorro à mesa. Não por preconceito ou por sentimento de superioridade, mas por pensar naquilo que consumo e por ter essa consciência registrada no meu código moral.
E seguir aquilo em que se acredita é o que torna o homem com H maiúsculo. Isso é postura de vida. Sei que não mudarei o mundo com isso. Mas eu me importo.
Fonte: Artigo publicado na Revista Universo Masculino, em 2007
Essa consciência vem para alguns, infelizmente não vem para todos. Eu estou me transformando em vegetariana e sinto bastante dificuldade para comer fora: tudo ou quase tudo gira em torno da carne. Restaurantes vegetarianos são ainda poucos numa mega cidade como São Paulo, e devem ser inexistentes em muitas cidades do interior. É difícil ir contra a corrente, contra tudo aquilo que nos foi passado na mamadeira. "coma o seu bifinho, nenem..."
ResponderExcluireu moro numa cidade mto pequena no interior de goias. ainda sou ovo-lacto vegetariana, pois nao tenho acesso a produtos especiais. almejo o veganismo, mas é ainda dificil para mim. o que me instrui sao os sites e paginas sociais de defesa dos animais e de alimentação, como este, que inclusive, foi por um desses sites que tomei consciencia. as publicações sao mto importantes para pessooas como eu. mto obrigada!
ExcluirPerfeito cada palavra que você disse!
ResponderExcluirAh! meus Deuses que artigo. Parabéns a você que descreveu com tanta precisão, sem pieguisse a morte de cada espécie. Juntarei-me a você para comer barro, caso eu esteja prejudicando frutas, verduras, legumes e sementes.
ResponderExcluirSe alimentar do sofrimento dos outros, sejam animais ou o meio ambiente, não é, nem de longe, sinal de evolução do ser humano.
abraços
Adorei o artigo. Há um mês decidi me tornar vegano. Existem dificuldade? com certeza! Falta de opções em restaurantes e supermecados, ingredientes em letras minúculas, impossíveis de se ler (quando isso acontece nem perco tempo, boicoto a marca). Mas estou muito feliz em descobrir novos sabores e opções. Enriqueci minha dieta de frutas, legumes e verduras e sou muito mais consciente daquilo que compro. Não tem volta.
ResponderExcluirHaaaa que palavras tao lindas... Concordo plenamente amigo... "animais sao animais: se comemos porco, comemos gato"... Comecei nessa luta faz pouco, mas irei até o final.
ResponderExcluirP.S. Compartilhei no face ok
Um abraço.
Mari Furtado.
adorei o texto. Muita da nao aceitacao de uma dieta vegetariana vem do preconceito, machismo e falta de informacao.
ResponderExcluir"ainda vigora no cidadão médio a estúpida filosofia camisa-desabotoada-peito-peludo-corrente-de-ouro de que vegetais são para quem abocanha fronhas".
ResponderExcluirAchei estranho vc tentar combater um preconceito, sendo preconceituoso. Pq parece que vc quer para si um novo conceito de "homem"... e tenta se defender da acusação de "morde fronha" - pq isso não é um homem de verdade, afinal - e não só se defende (sei lá pq) como tb usa as palavras vulgarmente.
Estranho.
Falo tudo colega! Parabéns pelo texto e pela atitude!
ResponderExcluirÓtimo texto, ótima análise. Parabéns!
ResponderExcluirGente olha que homem com H maiúsculo.
ResponderExcluir