Eles têm fome de quê?

Por Mônica Brandão e Vânya Fernandes

Eles têm fome de quê?Quando nasce um bebê, nasce uma mãe e um pai. E junto com eles, uma vontade louca que aquela criança coma, coma e coma mais um pouco. Alimentar o filho dá uma sensação divina de estar cumprindo bem o seu papel. Mas o ato pode ser complicado: ora a criança não tem fome, ora come muito, mas apenas o que quer. O que não varia são os pais, sempre oferecendo alguma coisa - muitas vezes, qualquer coisa. O resultado dessa ansiedade aparece nos números de uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo e nos últimos dados do IBGE, respectivamente: 10% dos adolescentes brasileiros são obesos e 40% dos adultos estão acima do peso. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Médica de Cambridge, na Inglaterra, não são apenas os genes que estão por trás disso. Os fatores ambientais, como as atividades físicas e os hábitos alimentares, também influenciam no sobrepeso.

Bebês precisam aprender a comer e nem sempre os pais conseguem ou mesmo sabem como fazer isso. Pesquisadores da Universidade do Tennessee, EUA, realizaram um estudo com 70 famílias e descobriram que as crianças estabelecem sua relação com a comida até os 2 anos. Justamente a fase com mais erros alimentares. O primeiro deles é achar que a criança precisa sempre engordar. É verdade que, no primeiro ano, o bebê triplica seu peso de nascimento. Mas esse ritmo é bem menor no segundo ano e muitos pais continuam a alimentá-lo como se essa desaceleração não existisse. Pior, e segundo erro: quando o filho recusa a comida, fazem de tudo para ele mudar de idéia, mesmo que seja com um pacote de bolachas.

Para tudo dar certo entre o peito da mãe e a sala de jantar, a criança precisa aprender a comer. A Revista Crescer elaborou um guia para ajudar. Nos links abaixo, você encontrará orientações para introduzir seu filho no mundo das papinhas, curiosidades sobre o paladar das crianças, comidinhas para comer com a mão, etc.

Não deixe de conferir também, a seleção de papinhas vegetarianas que o Cantinho Vegetariano preparou pra você... Bom apetite!

Quando começar?
O leite continua
A matemática da comida
Introdução em etapas
Quanto dar?
Como cozinhar
Higiene
A consistência certa
Paciência
Cadê o apetite?
Papinha pode ser temperada?
Água é fundamental
Como congelar papinhas
Amigos do intestino
Onde comer
Mantenha distância
Alimentos enriquecidos
Orgânicos
Papinhas prontas


Quando começar?

A hora de apresentar a papinha para o bebê depende de alguns fatores: o crescimento dele até aqui, a disponibilidade da mãe para amamentar se ela voltar ao trabalho, o estilo do pediatra.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ideal é iniciar as papinhas no sétimo mês. Mas tudo bem se isso acontecer antes, desde que seja feito com o aval do médico e de uma maneira legal e divertida para todos os envolvidos.

Só não dá para deixar o tempo passar e atrasar essa etapa. A demora pode ser prejudicial ao desenvolvimento da musculatura da fala e à aceitação dos alimentos.

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O leite continua

O bebê começará a comer papinhas, mas não é para esquecer da amamentação, que pode se estender até os 2 anos. O que muda é a quantidade de leite. Geralmente, as mamadas são reduzidas gradativamente a três vezes por dia.

Sempre que possível, evite dar o leite logo após as refeições, porque o cálcio presente nele diminui a absorção do ferro dos alimentos. O ideal é esperar duas horas. Cuidado também para o bebê não mamar muito e acabar sem apetite.

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A matemática da comida

Papinha bacana inclui três grupos alimentares: uma porção de alimentos construtores (proteínas), duas de alimentos energéticos (carboidratos) e duas de alimentos reguladores (legumes e verduras).

1 - Energéticos são responsáveis pelo fornecimento de até 60% da energia necessária para o crescimento e as atividades diárias da criança. Também auxilia no metabolismo da proteína. São eles: arroz, batata, mandioquinha, cará, batata-doce, mandioca, macarrão, aveia, fubá.

2 - Construtores ricos principalmente em proteínas, são responsáveis pela multiplicação das células. São eles: Leguminosas, como ervilha, lentilha, feijão ou grão-de-bico, leite e ovos.

3 - Reguladores regulam os processos bioquímicos do organismo, aumentam a resistência imunológica e fornecem fibras. São eles: alface, abóbora, brócolis, beterraba, cenoura, espinafre, couve, escarola, chuchu, abobrinha, vagem.

Criança precisa - e gosta - de disciplina. Por isso, sempre que possível, siga a mesma rotina alimentar

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Introdução em etapas

A criança bebe apenas leite por praticamente seis meses. Por isso, é preciso introduzir as papinhas aos poucos. O método varia entre os pediatras - alguns preferem começar com papinhas salgadas feitas com apenas um legume, enquanto outros já sugerem uma sopinha mais elaborada. Mas, no geral, eles recomendam a seguinte sequência:

1 - Escolha um dia e ofereça um suco de laranja-lima no meio da manhã, entre uma mamada e outra - e não perca por nada o rostinho de espanto que o bebê vai fazer
ao experimentar o novo sabor.

2 - Comece a oferecer as papinhas de frutas depois de três, quatro dias. Escolha um horário entre as mamadas na parte da tarde, e observe se o organismo da criança reage bem.

3 - Depois de uma semana, organize o horário das mamadas para oferecer a papinha salgada na hora do almoço. Continue com o suco e a papinha de frutas no lanche.

4 - Quando o bebê já estiver habituado é hora de dar a papinha salgada na hora do jantar também. E papinha de frutas como sobremesa nas duas refeições.

Os horários ficam assim:

Ao acordar: leite materno ou de fórmula
Meio da manhã: suco de frutas
Almoço: papinha salgada e fruta
Lanche da tarde: papinha de fruta e/ou leite
Jantar: papinha salgada e fruta
Ceia: leite materno ou de fórmula

Esses horários são apenas uma referência. Cada criança tem seu próprio ritmo.

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Quanto dar?

O quanto a criança vai comer varia muito, mas apenas para você ter uma referência:

Dos 6 aos 9 meses: de quatro colheres (das de sopa) a uma xícara
Dos 10 aos 12 meses: uma xícara cheia
De 1 a 3 anos: um prato infantil cheio

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Como cozinhar

1 - Depois de escolhidos os ingredientes que serão usados na papinha, pique-os e coloque-os numa panela para cozinhar. Uma dica: o volume de água deve ser o dobro da quantidade de alimentos que estão na panela, para a papinha não ficar rala.

2 - Quando os ingredientes estiverem cozidos, amasse-os com o garfo até obter uma consistência de purê ou passe-os por uma peneira.

3 - Antes de servir, teste se a temperatura está adequada - nem quente, nem fria -
no dorso de sua mão.

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Higiene

O risco de o bebê pegar uma infecção nessa fase inicial é grande. Seu organismo é muito sensível. Por isso, a higiene no preparo e consumo dos alimentos é fundamental.

- Antes de começar a cozinhar, lave bem as mãos.
- Os legumes, verduras e frutas devem ser lavados em água corrente, para retirar os vestígios de agrotóxicos.
- Ao cozinhar, evite espirrar, tossir ou falar próximo da comida, para evitar a contaminação de microorganismos pela saliva.
- Os ingredientes devem ter um aspecto fresco e boa aparência, sem partes danificadas.

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A consistência certa

Parece pouco, mas é a consistência certa da papinha que vai ajudar o desenvolvimento correto da mastigação, dos dentes e da fala do seu filho. O ideal é começar com uma papinha passada pela peneira - o liquidificador deixa os alimentos quase líquidos, o que não é legal.

Quando o bebê já estiver craque em engolir sem engasgar, experimente oferecer pedaços bem pequenos de legumes e frutas molinhos, como a batata e a banana. Com o treino e a chegada dos dentinhos, a criança vai se acostumar a pedaços maiores, até chegar à consistência normal de cada alimento.

Nesse momento, estimule a mastigação, oferecendo alimentos duros e fibrosos, como cenoura crua e maçã.

Como você vai saber a hora certa de mudar o tipo de papinha? Observando seu filho de perto na hora das refeições, verificando como ele reage a cada pedaço, se engasga, se aprendeu a lidar com alimentos mais duros.

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Paciência

Isso é tudo o que você precisa ter na hora de alimentar seu filho. A pressa só atrapalha. Respeite o tempo dele. O melhor a fazer é assumir que a operação toda pode demorar e tirar aquela hora para fazer apenas isso. Bom humor também é fundamental, para rir das cuspidas e das carinhas de 'não' que os bebês rapidamente aprendem a fazer. Ele está aprendendo a comer e esse momento deve ser cheio de prazer e diversão para vocês dois.

Quando a criança não quer, não insista. Nessas horas é muito comum ir direto para a sobremesa, só para ver o filho comendo alguma coisa. Nada de ansiedade. Muitas vezes, 15 minutos é o que ela precisa para aceitar o almoço numa boa. Tente durante um tempo antes de desistir. Lembre-se também que o truque que deu certo hoje pode não dar certo amanhã. Vai ter dias em que ela realmente comerá pouco. Com o tempo e a convivência, você entenderá melhor o ritmo dela e sua forma de se alimentar.

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Cadê o apetite?

A criança está aprendendo a comer. Vai passar por uma fase de conhecer a comida e talvez até a rejeite. Com o tempo, torna-se mais seletiva. Depois, a exploração do ambiente e as brincadeiras ficam mais interessantes do que os alimentos. A tendência é que seu apetite diminua. Se não acontece isso também com a expectativa dos pais, todo mundo fica ansioso e o momento de comer passa a ser temido. Não deixe a situação chegar a isso. E esqueça alguns mitos. Não há problema em outras pessoas alimentarem seu filho se você sentir que não tem paciência para isso.

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Papinha pode ser temperada?

Sim. Deve, para ficar mais gostosa. Nos primeiros meses, dê preferência aos temperos mais suaves, como salsão, salsinha, cebolinha. E sal, é claro. Eles são melhores porque não fermentam e não provocam gases no bebê, o que normalmente ocorre com o uso de alho e cebola. A introdução de temperos mais condimentados deve ser gradativa e sempre em pequenas quantidades. É só uma papinha, mas ela tem de estar tão gostosa que até você gostaria de comer.

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Água é fundamental

Ela entra em cena junto com as papinhas. Como não há uma recomendação médica específica de quantidade, ofereça depois e entre as refeições, até a criança aprender a pedir.

Sucos e chás sem açúcar também são bons, mas sem excesso, para não substituir completamente a água, que é considerada mais hidratante. Primeiro na mamadeira. Com o tempo, passe para o copinho.

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Como congelar papinhas

Não há nenhum problema em congelar papinhas se você não tem disponibilidade para cozinhar todos os dias. Algumas dicas:

1 - Após o preparo, coloque-a em potes pequenos e individuais.
2 - Ainda quente, coloque os potes abertos em uma vasilha com água gelada e pedras de gelo, por alguns minutos.
3 - Feche os potes e leve-os imediatamente ao freezer. As papinhas terão validade de, no máximo, três meses.
4 - Para descongelar, leve o pote direto do freezer para o microondas no modo descongelar por cinco minutos, em média. É bom mexer na metade do tempo.
5 - Fique atenta para a consistência da papinha ao ser descongelada. Ela deve ser igual à hora do cozimento. Esse é um sinal de que o valor nutricional da comida não foi modificado com o congelamento.

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Amigos do intestino

Alimentos que prendem: Batata, mandioquinha, inhame, arroz, banana-maçã, jabuticaba, maçã, goiaba, caqui

Alimentos que soltam: Verduras, legumes, damasco, ameixa-preta, mamão, kiwi, laranja com bagaço e abacaxi

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Onde comer

O primeiro passo é ter um cadeirão - há várias opções de modelos e preços nas lojas. As versões dobráveis e com rodas são mais práticas.

O segundo é escolher o local onde seu filho vai ser alimentado. Na maioria das vezes, o melhor é colocar o cadeirão na própria mesa de refeição da família, assim a criança observa os adultos e tenta imitar. O ideal é que ela se acostume a comer sem depender de distrações, como brinquedos e televisão.

A papinha que sobra no prato nunca vai para a geladeira. Coloque direto no lixo!

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Mantenha distância

Os pediatras e nutricionistas fazem coro: até 1 ano de idade é preciso evitar doces, refrigerantes e frituras. Pesquisas científicas apontam que esses alimentos, além de não possuir valor nutricional, aumentam o risco de a criança ficar obesa no futuro. Prefira sobremesas à base de frutas do que as bolachas doces.

Outro tipo de alimento que aparece principalmente na dieta dos bebês considerados magrinhos são os 'engrossantes', como a farinha láctea e o amido de milho. Eles apenas agregam calorias e, muitas vezes, são usados precocemente.

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Alimentos enriquecidos

Você encontra no mercado várias opções de alimentos enriquecidos, como margarinas com fibras, leite com cálcio, biscoitos e iogurtes com vitaminas. Apenas o pediatra, que conhece o histórico do seu filho, é quem deve avaliar a necessidade ou não do seu uso.

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Orgânicos

Eles são considerados mais saudáveis por serem produzidos sem agrotóxicos. Mas são mais caros do que as versões tradicionais. Invista neles, se puder. Na hora de comprar, veja se o produto tem selo de certificação.

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Papinhas prontas

Não há problemas em dar comidinhas industrializadas, de vez em quando. Elas não contêm conservantes, são nutritivas e muito práticas para um dia de passeio, por exemplo. Só não dá para ser sempre assim, pois faz parte da educação alimentar conhecer as comidas e os temperos da sua família.

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