Desmistificando o vegetarianismo

Desmistificando o vegetarianismo
Respeito à vida dos animais, ganho de saúde, ética ou até preceito religioso. São algumas explicações para uma pessoa banir ou diminuir a carne do seu cardápio. Mas ainda há uma outra questão a que poucos se atentam e está relacionada à própria sobrevivência da humanidade no planeta Terra.

Tomemos por base o próprio Brasil, onde se estima haver 32 milhões de pessoas passando fome. Pode parecer absurdo, mas o mesmo Brasil produz em alimentos 1,5 quadrilhão de calorias a mais que o necessário para alimentar toda a sua população.

Ora, mas para onde vão essas calorias excedentes, então? Em boa parte, a má distribuição de riquezas que caracteriza a economia brasileira explica a questão. Mas não é só isso. Nada menos que um quarto do território brasileiro é ocupado por pastagens, onde estão 200 milhões de cabeças de gado destinado ao consumo humano, ocupando extensões de terra que já foram mata nativa (hoje devastadas) e onde se poderia plantar para alimentar os próprios homens. Não apenas no Brasil, mas no mundo todo, 25% de todos os grãos produzidos são destinados à alimentação do gado.

Para se ter uma ideia comparativa, se os norte-americanos reduzissem em pelo menos 10% seu consumo de carne, a quantidade de grãos poupados poderia alimentar 60 milhões de pessoas. Outra comparação: para a alimentação de um único homem "carnívoro", são necessários recursos que alimentariam 20 vegetarianos.

A questão ambiental não se esgota aí. Ainda há o tema água, o bem cada vez mais precioso - e raro - na sua forma potável, em todo o mundo. Para se produzir um quilo de soja (um alimento rico em proteínas, como a carne), no Brasil, são necessários 2 mil litros de água. Já para produzir um quilo de carne, são nada menos que 43 mil litros.

Os números, portanto, apontam que, se a humanidade parasse de comer animais, adotasse uma dieta vegetariana e equilibrasse a distribuição dos bens que sobrariam, poderia produzir muito mais alimento para sua sobrevivência, podendo ainda economizar água e diminuir o desmatamento de enormes porções de mata.

Mas a discussão não fica apenas nisso. Grande parte da humanidade é educada numa cultura carnívora e aprende que comer carne é o "normal". O mundo "moderno" contribui ainda mais para isso. Desde as gôndolas de supermercados até os saborosos (e pouco nutritivos) fast-foods, a praticidade e o sabor ao qual nos acostumamos desde pequenos convida para o consumo da carne. Mas, em contrapartida, a procura por uma vida com menos riscos alimentares vem crescendo e produtos ditos saudáveis (entre os quais os vegetarianos) vendem a cada ano 15% a mais.

Por conta dessa demanda e para desmistificar a dieta vegetariana - sem se fazer nenhuma apologia dela, mas também se desvestindo de preconceitos antigos - O LIBERAL está mergulhando no assunto.

Palavra de nutricionista

A primeira pergunta que quase todos fazem ao deparar com um vegetariano é padrão. É possível viver sem carne? A resposta é sim e quem atesta é a nutricionista Carla Goulart, que não é vegetariana mas defende que uma dieta privada de carne pode ser tão boa ou até melhor que uma dieta carnívora.

"É possível viver e muito bem. A carne pode ser perfeitamente substituída por outros alimentos. Existe um grande preconceito a respeito desse assunto", diz Carla. Sobre cuidados a serem tomados nessa substituição, a nutricionista diz que são cuidados similares aos que devem ser tomados em qualquer alimentação.

"O onívoro (que consome carne) precisa tomar cuidado com o equilíbrio de seu cardápio. Precisa comer vegetais, saladas e leguminosas variadas. Quem acha que comendo apenas bife, arroz, feijão e batata frita está alimentando se engana. Essa pessoa pode estar subnutrida", exemplifica.
Já os vegetarianos precisam se atentar para suplementações alimentares. Carla explica que as vitaminas B12 e D3, por exemplo, só são encontradas em alimentos de origem animal. Os veganos (vegetarianos que não comem nem derivados do leite ou ovos) devem, então, suplementar tais vitaminas. A B12 existe na forma sintética, em comprimidos, e a D3 pode ser assimilada pelo organismo simplesmente tomando sol.

Outros cuidados, mais uma vez mais para os veganos, é quanto ao cálcio, que existe, por exemplo, no leite. Principalmente as mulheres, por conta da gestação, lactação ou a osteoporose (que pode aparecer após a menopausa), precisam suplementar a alimentação com cálcio. Também devem se atentar ao ferro, por conta da perda de sangue na menstruação. A preocupação quanto ao cálcio também deve existir quanto as crianças, que estão em fase de crescimento. Quando vegetarianas, as crianças devem tomar suplemento de cálcio, explica Carla.

A nutricionista, que está afastada temporariamente, tem clientes veganos de quase uma década, em perfeitas condições de saúde. "O equilíbrio é necessário em qualquer alimentação e os cuidados também", explica Carla.

Por Marcos Brogna

Fonte: O Liberal - Publicado em 06.05.2007

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