Vegetarianismo na escola

Vegetarianismo na escola
Depois de ter enfrentado toda a família durante a gestação e a infância, é chegada a hora de mais um desafio: manter uma dieta vegetariana para o seu filho na escola. Para muitos, as questões vão muito além da alimentação vegetariana em si: os professores usam couro e penas nas aulas de trabalhos manuais? Balas e outras guloseimas nada saudáveis são utilizadas pelos professores como forma de premiação ao aluno? Que tipo de histórias serão contadas na sala de aula, haverá histórias que vangloriam caçadores e domadores de circo?

Todos estes aspectos podem ser pesquisados com antecedência junto aos professores, diretores e conversando com outros pais, mas será muito difícil encontrar a escola perfeita. Diante desta realidade, o melhor que se tem a fazer é posicionar-se sobre como ajudar a escola em vez de buscar simplesmente criticá-la. Algumas linhas pedagógicas já partem de um lugar melhor com relação à questão da alimentação, como é o caso, por exemplo, da pedagogia Waldorf, ligada à antroposofia, que já tem em sua filosofia muitos aspectos relacionados à alimentação integral, orgânica e saudável.

No entanto, na prática, a história pode ser diferente. Enquanto as crianças têm aulas práticas de agricultura desde cedo e apesar da antroposofia estar diretamente ligada à agricultura biodinâmica, com um forte discurso ambiental, e os alimentos integrais serem um lugar comum, o que predomina nas festas escolares é as bancas que vendem churrasco, com direito à linguiça e tudo o mais! Na escola dos meus filhos, que é a mais antiga do Brasil, foi apenas em 2006 que houve pela primeira vez em sua história recente, durante o Bazar de Natal que recebe milhares de pessoas em um único dia, uma banca completamente vegana, que serviu pratos à base de tapioca. Esse é apenas um exemplo simples, mas vemos que mesmo as linhas pedagógicas que, em teoria, seriam mais simpáticas ao vegetarianismo possuem incoerências, independentemente do quão belo essa pedagogia possa ser em sua totalidade teórica. Se nem as escolas mais simpáticas a um estilo de alimentação diferenciado são vegetarianas, então o que fazer, em qualquer linha pedagógica que seja?

Enviar o lanche de casa é certamente o primeiro passo para cuidar da alimentação do seu filho na escola. Mas será que o seu filho será o único a levar alimentos "diferentes" para a escola? Provavelmente não, uma vez que há tantas crianças com alergias e preferências familiares específicas hoje em dia. Talvez ela não terá muitos ou sequer um colega vegetariano, mas é improvável que ela seja a única criança a levar um lanche diferenciado. Seja como for, ao planejar o lanche que ele levará à escola, inove, faça do lanche vegetariano do seu filho não o mais "diferente" de todos, mas o mais atraente de todos. Com isso você poderá inspirar outros a também oferecerem lanches saudáveis para seus próprios filhos.

Em reuniões e festas, não leve apenas a marmita exclusiva da família. Ao contrário, aproveite a oportunidade para oferecer aos pais e professores um lanche vegetariano que seja tão criativo quanto saboroso. Vá além do pão integral com geléia e ofereça a eles torradas integrais com tahine, arroz com lentilhas, tortas, quibes, vegetais ao molho de tofu com ervas, bolos de frutas... Para o lanche da criança, aquele pão mais escuro do que o dos colegas ficará mais interessante se for cortado em formato de estrela e aquelas sementes de girassol podem vir acompanhadas de um recorte de uma foto da flor de onde essas sementes vieram, o que despertará o interesse e mudará o alimento de "comida de passarinho" para "comida florida". Quando se tratam de alimentos vegetais, as possibilidades de se trabalhar com formas, imagens e histórias são muitas.

Isso tudo inicia o trabalho de mudança dentro da escola por via da curiosidade. Uma vez conquistada esta fase, é necessário ir além e fornecer informações tanto para os professores e para a lanchonete da escola quanto para os outros pais e crianças. Isso pode ser feito criando ou usando as oportunidades de palestras ou simplesmente oferecendo mão-de-obra voluntária em eventos. Você pode ainda pedir a um especialista que analise o cardápio que está sendo oferecido atualmente. Isso te dará base para argumentar que a sua opção alimentar é uma opção mais saudável. Com isso, ofereça a ajuda que puder para que algumas mudanças sejam implantadas.

O que quer que você faça, faça com uma postura positiva, sendo o menos crítico possível, oferecendo soluções ao invés de simplesmente apontar erros. Se for fazer uma palestra, pesquise bem o assunto antes e não queira falar tudo o que sabe sobre vegetarianismo em uma palestra de 30 minutos. Faça uma palestra que desperte o interesse dos outros sem que eles se tornem defensivos, pois é somente assim que eles se abrirão para as suas idéias. Lembre-se de que eles, a princípio, não te solicitaram nada disso e portanto vá devagar para não assustá-los. Procure pela escola por aquelas pessoas que tenham ideais comuns aos seus, ainda que seja algo apenas próximo ao vegetarianismo, pois eles poderão ser seus aliados no processo de mudança que você venha a propor.

Na medida em que você se dedica a garantir não apenas a alimentação escolar adequada para o seu filho, mas também se dispõe a propor mudanças que serão positivas para a saúde de todos, tenha em mente que você estará influenciando muitas pessoas e o estará fazendo com uma grande chance de que essa mudança dure uma vida toda! Lembre-se sempre disso nos momentos de negociações difíceis com pais e professores, pois com um objetivo grandioso como esse, o trabalho não poderia ser sem dificuldades. Encare o desafio da alimentação escolar do seu filho como uma oportunidade para educar e inspirar outros e faça dessa jornada, em mais esta etapa da alimentação vegetariana do seu filho, algo leve e gratificante.

Por Dr. George Guimarães, nutricionista especializado em dietas vegetarianas

Fonte: Nutriveg - fevereiro/2008

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