Vegetarianismo não é garantia de saúde

Vegetarianismo não é garantia de saúdeNo 35º Congresso Mundial de Vegetarianismo, que aconteceu em julho, em Edimburgo, na Escócia, as máquinas fotográficas digitais foram as vedetes. Como não precisam de filme fotográfico (que leva gelatina, produto de origem animal), essas câmeras combinam com o estilo de vida dos vegetarianos, principalmente dos vegans (pronuncia-se "vigans"), os mais radicais de todos, que não comem nem usam qualquer produto de origem animal, banindo do cotidiano até as malhas de lã.

"Eu não seria vegan só por uma questão de saúde; o que me move é ser eticamente correta, evitando o sofrimento dos animais", afirma Marly Winckler, secretária regional para a América Latina da União Internacional Vegetariana (UIV).

Independentemente da questão ética, o fato é que o vegetarianismo tem ganho espaço em todo o mundo. No Brasil, não há nenhum levantamento desse tipo, mas na Inglaterra, por exemplo, a UIV estima que os vegetarianos somem 10% da população. Eliminar a carne do cardápio é um hábito que está conquistando também os fãs do hambúrguer: segundo pesquisa da revista "Times", divulgada no mês passado, cerca de 10 milhões de americanos se consideram vegetarianos.

Mas será que os vegetarianos são mais saudáveis que aqueles que comem de tudo? Não necessariamente. "A literatura médica mostra que a dieta ideal inclui o consumo moderado de carne", diz o gastrocirurgião Dan Waitzberg, da Faculdade de Medicina da USP e presidente do Ganep (Grupo de Apoio de Nutrição Enteral e Parenteral). "O homem é onívoro, ou seja, come de tudo, e a carne é a melhor fonte de proteína e de ferro", afirma Silvia Cozzolino, presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição. "Uma dieta vegetariana malfeita pode causar problemas de saúde", afirma a nutricionista Anita Sachs, da Unifesp.

Uma dieta sem carne pode ser saborosa e trazer uma série de benefícios, entre eles a redução do risco de doenças cardiovasculares. Mas os especialistas alertam: é preciso muita informação para dosar corretamente os alimentos. E esse balanceamento deve levar em consideração o sexo, a idade, o peso e a altura da pessoa.

"Um adulto consegue manter uma dieta equilibrada, sem prejudicar o organismo, mas precisa ser quase especialista em nutrição", afirma Waitzberg. "E, no que se refere à vitamina B12 -encontrada só em alimentos de origem animal- e ao ferro, a atenção deve ser redobrada", explica Sachs.

O consumo de carne é defendido até por especialistas da chamada medicina alternativa. Para o médico Mauro Perini, especializado em medicina chinesa pela Unifesp, "as carnes são necessárias". Autor do livro "Terapia Dietética Chinesa" (ed. do autor), Perini diz que o equilíbrio alimentar indica equilíbrio físico, emocional, mental e espiritual. "Temos de comer de tudo. Nosso corpo exige isso."

O terapeuta corporal Léo Artése, 45, está mais próximo da dieta ideal. Ele é ovolactovegetariano, ou seja, consome vegetais e laticínios. "Os ovolactovegetarianos só precisam ficar atentos à deficiência de ferro heme, nutriente só encontrado na carne", diz Sachs.

Depois de comer veado, tartaruga, cobra, tatu e até baleia, Artése decidiu eliminar a carne do cardápio há 16 anos porque estava "excessivamente gordo". "Emagreci 18 quilos, não preciso mais usar desodorante, meu sistema digestivo funciona melhor, fiquei menos doente e até sinto que minha libido aumentou."

Vegan há 12 anos, Christopher Piva, 29, possui sete frases em defesa de seu estilo de vida tatuadas pelo corpo. "Como arroz e macarrão integrais, legumes, saladas, frutas, grãos, sementes... Nunca tive problemas de saúde, mesmo sem tomar suplemento de B12", diz.

O nutricionista George Guimarães, 28, também é vegan e não toma B12. "Sempre verifico como está minha saúde". No entanto, ele recomenda a suplementação aos pacientes para evitar deficiências. Ele é proprietário da Nutriveg, empresa de consultoria em nutrição vegetariana que deve lançar neste mês, em parceria com a Associação dos Bares e Restaurantes Diferenciados de São Paulo (Abredi), um selo para identificar pratos vegetarianos em restaurantes. "Vinte estabelecimentos não-vegetarianos já aderiram", diz.

Crudívoros e frugívoros devem ter um cuidado especial. "Nos frugívoros, por exemplo, a deficiência de gordura é imensa. Sua alimentação só é equilibrada em relação às vitaminas hidrossolúveis, como a C, porque as lipossolúveis (A, D, E e K) precisam de gordura para serem transportadas para as células", afirma Sachs. Já os que só comem alimentos crus, principalmente brotos, podem sofrer com a falta de gordura, fibras e proteínas, completa a nutricionista.

Luciano Bonfico, 26, é frugívoro há dez anos. "Ao comer os frutos das plantas, não as matamos, elas não sofrem", diz. Bonfico prefere as amêndoas e as nozes, "alimentos que me dão bastante proteína". Além disso, ele come salada de tomate, azeitona e abacate "para obter gordura". "Minha única preocupação é tomar suplemento de B12", diz.

Menos precavido é o presidente da Associação Vegetariana Espanhola, o engenheiro Franscisco Martín, 53, que já esteve no Brasil. Crudívoro há 14 anos, ele não toma suplemento vitamínico e não receia ter problemas nutricionais, "porque tanto fisiológica quanto psiquicamente estamos aptos a nos alimentar desse modo".

Segundo os especialistas, os onívoros que decidirem abolir as carnes da rotina alimentar podem apresentar uma queda no sistema imunológico, flatulência e cólica no início do processo. "Mas nosso organismo é mais inteligente que nós, ele se adapta rapidamente", diz Cozzolino

Por Antonio Arruda

Fonte: Folha Online - Publicado em 01.08.2002

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