Vegetarianismo: Sinal de rebeldia ou opção saudável?

Nove porcento dos brasileiros são vegetarianos e muitos jovens optam por esse estilo de vida saudável, mas às vezes contestado. O GAZ+ conheceu uma turma que não come carne de jeito nenhum e mostra que a alimentação deles vai muito além da saladinha.

Há quatro anos, a paixão por animais fez com que Helena Ganzert Geraldo, à época com 13, parasse definitivamente de comer carne. “Eu não acho certo a gente matar uma forma de vida. Não acho válido esse sofrimento dos animais só para satisfazer uma coisa que eu gosto”, diz a jovem que hoje, aos 17, ainda mantém – com orgulho – o estilo de vida vegetariano.

E ela não está sozinha nessa. Pelo contrário. É cada vez maior o índice de pessoas – entre eles, muitos jovens – que optam por eliminar a carne totalmente do cardápio. Juntos, os vegetarianos já somam 9% da população brasileira. E os motivos para isso são variados.

Jeander Pinheiro Ribeiro, 21, já tinha sido vegetariano na adolescência, por motivações políticas, mas não levou para frente a ideia. Há dois anos, ele resolveu tentar de novo. “Eu já estava mais maduro e entendi que é muito mais que uma causa politica, é uma questão de respeito”, conta. Para eliminar de vez a carne do cardápio, ele lembra que foi deixando de comer aos poucos, até parar de vez. Jeander não fez nenhuma avaliação nutricional, mas diz que obteve bastante informação na internet.

Já Helena fez um acompanhamento com uma nutricionista antes de começar a nova dieta. Por ter hipoglicemia – baixo nível de glicose no sangue – ela teve de ter um cuidado especial. “A nutricionista perguntou minha rotina, como era a comida em casa, se eu tinha tempo para cozinhar. Daí ela foi me indicando coisas pra comer e várias receitas”, lembra.

Na mesa de casa

Para Helena, deixar de comer carne não foi um problema em casa. Como a mãe e o padrasto só consomem peixe, eles não se importaram muito com a opção da jovem. Já a avó sempre dá um jeito de dar uma alfinetada. “Ela fica falando para eu comer um franguinho”, conta.

Quem passa pela mesma situação é Camila Carbonar, 18, vegetariana há um ano e meio. Ela diz que os pais, de início, não aceitavam, mas com o tempo entenderam. Os avós acham “um absurdo”. “Mas eu relevo”, diz.

A família de Jeander até hoje ainda não aceita. “Eles entenderam como uma revolta. Eu tenho problemas em casas, eles querem provar que não vai dar certo”, diz o jovem, garantindo que nunca teve nenhum problema de saúde por conta do vegetarianismo. Ele, aliás, vai todos os dias para o trabalho de bicicleta e está sempre bem disposto.

Com os amigos, o negócio é diferente. Os três garantem que não sofrem pressão da galera para comer carne. “No máximo, é uma tiração de sarro”, aponta Camila.

Cardápio variado

E quem pensa que vegetariano come só salada, está enganado. Estrogonofe de glúten, bolinho de arroz, arroz integral e “um feijão preto bem feito” são os pratos preferidos de Jeander. Helena, que curte cozinhar, adora macarrão ao molho de brócolis, outras massas e “qualquer coisa com batata”. Já Camila não dispensa leguminosas como soja e lentilha para repor as proteínas.

Na opinião das meninas, Curi­­tiba tem boas opções de restaurantes vegetarianos e elas garantem que não passam fome quando precisam comer na rua. Por outro lado, Jeander, que almoça quase todo dia no shopping, tem uma opinião mais radical. “Na verdade, eu evito de ir em restaurantes ve­­­getarianos para tentar forçar os outros restaurantes a terem op­­­ções sem carne”, diz.

Antes do verde, o nutricionista

De acordo com a nutricionista e professora do departamento de Nutrição da PUCPR Ana Cristina Miguez, é importante saber que o corpo de cada pessoa reage de uma maneira diferente quando se está sob dieta vegetariana. Além disso, é preciso saber a diferença entre vegetarianos e vegans. Enquanto os primeiros não se alimentam de carne, o segundo grupo não consome também nenhum alimento que tenha origem animal, como ovos e leite.

Para Ana Cristina, o principal erro que as pessoas cometem ao cortar a carne do cardápio de vez é não fazer uma visita a um nutricionista. Entre os exames realizados estão a dosagem de ferro, hemograma, estado nutricional, além de medir peso, altura, índice de massa corporal (IMC) e uma avaliação subjetiva global. “O paciente precisa estar bem para começar ter uma alteração na dieta”, afirma.

Ela lembra que no passado existia a ideia de que os vegetarianos passariam muito mal por falta de nutrientes, mas que hoje já se sabe que não é bem assim. Para levar uma vida saudável, o vegetariano não pode deixar de consumir leguminosas, como feijão, soja, grão de bico e ervilha, por conta da grande quantidade de proteína. “Além disso, comer muitas frutas e hortaliças, diminuir açúcares, consumir mais alimentos e massas integrais, beber muito líquido e praticar exercício físico também é muito importante. Uma dieta saudável faz efeito, mas quando associada ao exercício, ela fica muito mais poderosa”, recomenda Ana.

Depoimento

Um dia com almoço sem carne - Por Marcelo Furtado, repórter

Sou carnívoro convicto e a possibilidade de ter de almoçar em um restaurante vegetariano sempre me assustou. Mesmo assim, topei o desafio e resolvi embarcar nessa experiência para conhecer um pouquinho mais desse universo verde. E olha, de cara já posso dizer que foi bem melhor do que eu esperava.

Num prato que faria minha mãe morrer de orgulho, coloquei aquela saladinha, arroz com gergelim, feijão, torta de triguilho (triguilho?) e panqueca de palmito. Meio à contragosto, me servi também de glúten à milanesa, que, no fim, foi o que eu mais curti. Achei parecido com nuggets, e não tem aquele gosto “natural demais” (como tem, por exemplo, o triguilho). Tudo saboroso, tudo aprovado.

Dizer que não senti falta de carne é mentira, mas mudei um pouco meu conceito. Confesso que me surpreendi com a variedade de pratos, muitos deles com ingredientes que eu gosto muito, como a panqueca de palmito. Não vou deixar de comer carne, mas certamente vou ser menos radical na hora que alguém sugerir um restaurante vegetariano. Só que, da próxima vez, vou fazer questão de escolher um que pelo menos sirva refrigerante. É muito difícil ser 100% saudável, não é?

Fonte - Publicado em 25.06.2011

3 comentários:

  1. Gostei muito da matéria! Tenho 23 anos e tem seis anos que não consumo nenhum tipo de carne, sendo que nesse tempo fiquei 3 anos sem consumir nada com ovos também.
    E uma coisa eu garanto, minha vida material/espiritual está muito melhor assim.

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  2. É isso aí, Pamela... Adotar uma dieta vegetariana equilibrada só traz benefícios. Abraço!

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  3. Influenciado pela namorada e por alguns amigos, faz uns 5 meses que não consumo carne, ainda consumo derivados de leite e ovos. O que mais me assustou quando parei não foi nem as opções do meu novo cardapio, aliás, já estou até engajado em aprender a cozinhar - fiz um quibe de soja maravilhoso semana passada; mas sim o preconceito. Mesmo sabendo que, muitas das vezes, são apenas brincadeiras, parece que os outros estão sentindo mais gosto em te criticar, questionar e provar que você está errado etc. Não obstante, isso tudo me fez ver o mundo com outros olhos. Mesmo que eu algum dia volte a comer carne - por necessidade -, com certeza eu serei uma pessoa muito mais conciente.

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Obrigada por visitar o Cantinho Vegetariano e deixar um comentário... Tentarei responder o mais breve possível.

Atenção!!!

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