Então você decidiu tornar-se vegetariano, mas ainda falta dar aquele último passo. Talvez você ainda consuma algum peixe ou ave "só de vez em quando", ou talvez você ainda coma carnes todos os dias, mas esteja pensando tão seriamente e com tanta convicção sobre o assunto que você já se considera um vegetariano (o que obviamente é um engano). Pensando nisso, o que falta para você fazer a transição final? O que impede as pessoas de darem o último passo em direção ao vegetarianismo, mesmo aquelas que já entenderam, em todas as esferas, que a dieta vegetariana é a melhor escolha?
Na minha observação, a resposta a esta pergunta reside num único sentimento: o medo. Ele é a grande barreira que impede as pessoas de concretizarem a sua decisão, levando-as a criar desculpas para si mesmas ou a aumentar barreiras que poderiam ser transpostas com alguma atitude positiva. Esse medo pode ser o medo de parecer diferente, de ter que enfrentar os amigos ou familiares, de ficar desnutrido, de ter que abrir mão do paladar, entre outros.
Sobre o medo de parecer diferente, existe inclusive o medo de ter que frequentar lugares para os quais a pessoa criou uma ilusão estereotipada e cujo simples pensamento já a remete a uma sensação de temor do diferente ou desconhecido. Um exemplo disso é imaginar, sem nunca ter frequentado um, que todos os restaurantes vegetarianos são lugares onde temos que deixar os sapatos na porta e recitar mantras em sânscrito antes de comer. O que não é necessariamente ruim, mas também não representa a maioria dos estabelecimentos nesse ramo.
Esse é um medo muito fácil de ser resolvido, geralmente com uma simples experiência. Mas acreditem: há pessoas que têm temor de ter uma primeira experiência em um restaurante vegetariano. Por outro lado, a surpresa e satisfação que elas experimentam são proporcionais, haja vista que, com muito sabor e um ambiente acessível à realidade da maioria das pessoas, os restaurantes vegetarianos em geral cumprem bem o papel de dissipar este mito. A mesma experiência, seja num restaurante vegetariano ou na casa de um amigo, pode ser válida para dissipar o mito de que, para se tornar vegetariana, a pessoa terá que abrir mão do paladar.
Ela causa desnutrição?
O medo de ficar desnutrido é sem dúvida um dos maiores medos que se impõe como uma barreira para a transição final.
Na minha experiência no consultório, onde atendo exclusivamente a pacientes que são vegetarianos ou que estão justamente buscando dar esse último passo, eu observo que o que a maioria das pessoas busca é o aval de um profissional especializado que diga a elas: "vá em frente, vai ficar tudo bem".
Elas já tomaram a decisão, já estão prontas, mas falta-lhes libertarem-se da última ponta de apego ou medo do novo e diferente. É claro que a informação é importantíssima para isso, e é para isso que elas me procuram e de fato levam consigo informações que farão toda a diferença para o sucesso da sua dieta vegetariana.
Mas eu também observo em muitos dos meus pacientes que, além da sensação de segurança que somente a informação pode lhes conferir, há também uma sensação de alívio, algo como "que bom que agora eu posso acreditar naquilo que eu já sabia estar certo o tempo todo". E de fato, no campo nutricional, com a informação e cuidado corretos, deixamos para trás o aquilo que poderíamos temer, restando apenas aquilo do que desfrutar!
Seja qual for o medo, a chave está na informação e na coragem de experimentar. Atualmente, a informação sobre o tema está amplamente disponível àqueles que a procurarem. Quanto à coragem, no caso específico de dar o último passo em direção ao vegetarianismo, estamos falando de uma ação ou experimento que oferece poucos riscos.
No campo da nutrição, o experimento está certamente destinado a ser bem-sucedido se for aliado à informação. No campo gastronômico, o maior risco que a pessoa corre é o de aprender os nomes de novos alimentos ou ter que pagar por uma refeição que não a agradou.
Já no campo social, esta é uma área mais delicada, pois há o risco de criar conflitos com pessoas queridas ou ambientes críticos. Mas com algum estudo, a pessoa pode estar preparada para saber argumentar de maneira a minimizar os conflitos e assim guiar as discussões para o caminho da resolução ao invés do caminho do enfrentamento improdutivo.
Com tantas pessoas tornando-se vegetarianas, esta área complexa que é a dos relacionamentos humanos já vem sendo bastante explorada e experimentada no que diz respeito ao tema, por pessoas que provavelmente já passaram por situações muito parecidas com a do novo adepto. Fazendo uso dos diversos fóruns eletrônicos e outras formas de troca de experiências e apoio, os erros e acertos de outros podem servir como um rico aprendizado que ajuda a minimizar os conflitos sociais.
Se você é uma dessas pessoas que ainda não se permitiu dar o último passo, procure lembrar-se do que foi que te motivou desde o início. Se o motivo foi pela sua saúde, você só tem a ganhar em fazer a transição o quanto antes. Os medos de carências nutricionais não passam disso mesmo: medos.
As justificativas criadas por você (ainda que inconscientemente) no intuito de te ajudar a manter a boa saúde estão mais provavelmente adiando esta conquista de um grau superior de saúde. As informações, os estudos científicos e as experiências individuais trazem uma mensagem bastante clara: é possível adotar uma dieta vegetariana em qualquer fase da vida, bastando para isso observar alguns cuidados nutricionais que são relativamente fáceis de serem seguidos. Informe-se e vá em frente!
Se o que te motivou foi uma questão ambiental, é desnecessário dizer que nesse campo estamos correndo contra o tempo e qualquer desculpa que possamos inventar para justificar o apego a uma dieta centrada na carne não ajudará a amenizar o impacto exagerado que exercemos sobre o planeta e que atualmente o coloca à beira da destruição.
O que precisamos é de ação, sobretudo de uma revisão daquelas ações que realizamos ao menos três vezes por dia ao sentarmos à mesa. Cada dia que você adia para dar o próximo passo é um dia em que você cometeu ao menos três erros perfeitamente evitáveis que afetam diretamente a saúde do planeta.
Se o motivo que te despertou para o vegetarianismo foi a questão animal, é desnecessário dizer que cada dia que você perpetua a sua racionalização para buscar justificar a sua impossibilidade em parar de comer carne é um dia fatal para os animais. E para esses, assim como para o planeta, as suas desculpas são sem efeito.
Você tem o poder para fazer a mudança que deseja fazer em sua vida e o último passo está logo aí, bem à sua frente. Basta munir-se de informação, despir-se dos medos e caminhar, um grande passo a cada dia. Você não demorará a descobrir que a caminhada não é apenas mais fácil do que você imaginava.
Ela é também repleta de surpresas e ganhos diversos pelos quais você nem esperava, pois se mantinham encobertos pelos medos que você outrora cultivava. Este último passo em direção ao vegetarianismo é, na verdade, apenas um dos primeiros passos dentre os que podem ser considerados essenciais para trilhar o caminho da saúde, da consciência ambiental e do respeito a todas as formas de vida.
George Guimarães é nutricionista especializado em dietas vegetarianas.
Fonte: Minha Vida
o problema são pessoas querendo ser vegetarianas mas sem ter o hábito de comer frutas e verduras.
ResponderExcluirUal!!! Ótimo artigo!!
ResponderExcluirGrandes identificações e respostas....
Que bom que gostou, Daiane... Obrigada por comentar. Abraço!
Excluir27 anos sem comer carne, uma dica para quem quer substituir a carne é primeiramente ler este artigo até o fim, muito bom!!! e outro é a soja, abuse da soja!!! e de legumes e verduras verde escuros como o brócolis..Temos muita opção de comida sem a carne, é só criar o hábito! vamos dar direito de vida aos animais.
ResponderExcluirGosto muito desse site!
ResponderExcluirFico feliz por isso, Jaqueline... Obrigada pelo carinho. Abraço!
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