Vegetarianos têm deficiência de proteínas?

por Dr. Eric Slywitch

Vegetarianos têm deficiência de proteínas?
Deficiência de proteína não é comum em vegetarianos. Aliás, é raríssimo!

Eu nunca atendi um único vegetariano no consultório com esse problema, e os artigos científicos que avaliam a nutrição proteica dessas populações também não demonstram esse problema.

Infelizmente muitos profissionais apavoram, desnecessariamente, o vegetariano com esse tema.

A proteína é importante sim, mas isso não quer dizer que ela esteja sendo negligenciada quando retiramos a carne do cardápio e também os ovos e laticínios.

A deficiência de proteínas

As consequências da deficiência de proteínas são diversas, podendo acarretar deficiência de crescimento nas crianças, alterações imunológicas e em diversos órgãos corporais, retenção de líquidos, alterações em cabelo, pele, etc.

Se você tem algum desses problemas, não se apavore inicialmente com a proteína, pois há inúmeros outros problemas que podem desencadear essas alterações. Na investigação diagnóstica o seu médico deve avaliar, também, a proteína no seu organismo.

Por que existe terrorismo com relação à necessidade de proteína de origem animal no cardápio?

Se você é vegetariano, com certeza já passou, e ainda passa, pela situação de ser questionado repetidamente sobre as proteínas da sua dieta.

As pesquisas científicas iniciais que deram origem aos conhecimentos sobre esse assunto foram baseadas em estudos com animais. Isso trouxe uma série de erros ao transpor esse conhecimento para a aplicação em seres humanos.

Felizmente as pesquisas mais recentes já mostram claramente as diferenças que ocorrem em seres humanos com relação aos animais, mas infelizmente a atualização desses conceitos por alguns profissionais ainda está defasado.

Aminoácidos e proteínas

Falar de proteínas não é simples, pois os conceitos básicos são amplos e necessitam explicações bastante detalhadas para serem completamente entendidas. Vamos ao que é importante no momento.

As proteínas são compostas por aminoácidos. Podemos comparar a proteína com um muro, e os aminoácidos com os seus tijolos.

Alguns aminoácidos podem ser produzidos pelo nosso próprio organismo, sendo chamados de “dispensáveis” ou não essenciais. Outros nós precisamos ingerir, pois não temos a capacidade de produzi-los. São os aminoácidos que chamamos de essências, ou “indispensáveis”.

A necessidade de consumo de proteínas animais

Não há necessidade de ingerir proteínas de origem animal em qualquer fase da vida humana.

Não existe nem um único aminoácido essencial que esteja ausente nas proteínas vegetais.

Muitos profissionais de saúde ainda utilizam o termo “valor biológico” como referência de qualidade de proteínas. O valor biológico reflete a incorporação da proteína absorvida pelo organismo. Na dieta variada, como é a de qualquer pessoa que não consuma um único alimento ao longo do dia, esse critério de avaliação não tem sentido.

Desde 1991 a Organização Mundial de Saúde e a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) recomendaram que não se utilizasse mais o valor biológico como forma de análise da qualidade nutricional das proteínas, já que o método é muito falho para seres humanos. Tal medida foi substituída pelo PDCAA, um outro método de dosagem, que reflete com mais exatidão a necessidade humana.

Com este novo método, ficou claro o erro cometido no passado, quando se afirmava que a carne é necessária ao organismo humano como provedora de proteínas. O mesmo é válido para os ovos e laticínios.

Os estudos de revisão da literatura científica demonstram que não há diferença alguma na incorporação das proteínas provenientes de alimentos vegetais ou animais no organismo humano.

Portanto, quando você escutar alguém insistindo que você deve comer alimentos de origem animal devido ao seu alto valor biológico, saiba que isso não é necessário.

O consumo de proteínas de origem animal e vegetal no mundo

O consumo de proteínas vegetais corresponde a 65% do total de proteínas ingeridas pelas pessoas no mundo todo. Nos Estados Unidos esse consumo corresponde a apenas 32%, demonstrando que essa população está reduzindo a ingestão de alimentos de origem vegetal e aumentando a de origem animal. As conseqüências para a saúde, desse padrão alimentar americano, são nítidas.

Por que é muito difícil um vegetariano apresentar deficiência de proteínas?

A análise de diversos estudos mostra que os veganos não apresentam risco aumentado de deficiência de proteínas. A necessidade protéica é a mesma para vegetarianos e não-vegetarianos adultos, desde que a pessoa não tenha uma alimentação baseada num único grupo alimentar. Logo à frente vou explicar isso.

Outro ponto importante é com relação ao fornecimento de energia através dos nutrientes. Quem fornece energia (calorias) através da alimentação são os carboidratos, as gorduras e as proteínas. Apesar do álcool também fornecer energia, vamos deixá-lo de fora.

Pois bem, quando você atinge a quantidade de calorias que necessita, digamos 2.000 calorias (um valor fictício, pois cada pessoa em diferentes situações tem necessidades diferentes),é necessário saber de onde provêm essas calorias. Se, por exemplo, a metade disso veio da ingestão de gorduras, muito provavelmente a dieta está bastante desequilibrada. Assim, é estabelecida uma porcentagem para que esses compostos (carboidratos, proteínas e gorduras) estejam dispostos na dieta.

A recomendação mais aceita atualmente, estabelece que a proteína forneça cerca de 10 a 15% das calorias da dieta. Assim, numa dieta com 2.000 calorias, 200 a 300 calorias devem ser provenientes da proteína, e as calorias restantes de carboidratos e gorduras (também com proporções recomendadas estabelecidas).

Através de um cálculo simples, podemos entender por que é quase impossível ocorrer falta de proteínas na dieta vegetariana.

Basta que tenhamos em mente o conceito básico de que do total de calorias ingeridas na dieta, 10% pelo menos, seja proveniente de proteínas.

Assim, podemos fazer um cálculo simples com relação à quantidade de proteínas que está presente nos diversos grupos alimentares. Esses cálculos são apresentados no meu livro “Alimentação sem Carne – guia prático” com mais detalhes.

Entenda os números abaixo da seguinte forma: se você ingerir apenas o grupo de alimentos discriminado, você estará atingindo a quantidade apontada de proteína, em valor percentual. Lembre-se de que o ideal, no balanço final do que você come em 24 horas, é manter isso entre 10 e 15%.


Dessa forma, se você ingerisse apenas cereais integrais e atingisse a necessidade de calorias que necessita por dia, a proteína teria alcançado 13,32% das suas calorias.

Assim, as únicas formas de ingerir menos proteína do que o necessário seria não ingerindo a quantidade de calorias necessárias por dia (processo que podemos chamar de inanição, e não vegetarianismo) ou fazendo com que a base da alimentação seja constituída de amiláceos, frutas, além de óleos e açúcar (esses dois últimos não contêm proteínas).

De forma geral, os estudos mostram que, no balanço total da alimentação os vegetarianos ingerem menos proteínas do que os não-vegetarianos, mas esses valores são adequados em termos de quantidade total de proteínas e de aminoácidos ingeridos . Os onívoros tendem a consumir mais proteína do que o necessário.

Geralmente, os vegetarianos consomem cerca de 13 a 14% do seu volume calórico como proteínas, enquanto que os onívoros ingerem cerca de 16 a 17%.

Com relação à obtenção de todos os aminoácidos, o ajuste também não traz problemas. De forma prática, havendo feijões (isso inclui ervilha, grão-de-bico e lentilha) no cardápio, o balanço fica muito adequado.

Os exames de sangue

É possível mensurar, através de exames de sangue, além de dados de composição corporal, os marcadores de nutrição proteica.

Não há porque ter dúvidas numa avaliação nutrológica quanto à nutrição de proteínas, pois a avaliação clínica e laboratorial trazem dados precisos sobre o estado de nutrição desse composto.

Afirmar que o vegetariano vive às margens da deficiência proteica é um erro conceitual e sem evidências científicas.

Conheça 8 mitos sobre a proteína vegetal

Eric Slywitch é médico e especialista em nutrição. Vegetariano, dedica seu trabalho a orientar as pessoas que desejam adotar esta dieta. É autor dos livros "Virei Vegetariano e Agora?" e "Alimentação sem Carne".

Fonte: Alimentação sem Carne

9 comentários:

  1. Muito bacana o artigo. Aqui em casa, nunca precisei tratar de anemias e adoecer é coisa rara.
    Meus filhos foram gerados e criados sem carne, peixes e ovos ( não digo que nunca comeram, respeito o livre arbítrio ) meus pequenos são saudáveis, lindos e inteligentes.

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    1. Que bom que gostou, Paula... Obrigada por compartilhar sua experiência. Abraço!

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  2. Olá, Gostaria de esclarecer uma dúvida. Faço musculação e o meu objetivo é ganhar massa muscular e diminuir a flacidez. Iniciei um acompanhamento nuricional desde que entrei para a academia, há aproximadamente 1 ano, e está sendo muito benéfico, perdi gordura e estou começando a desenvolver a musculatura. Mas a grande questão é: Eu quero começar a ser vegana e minha nutricionista se nega a coortar a carne da dieta, ela diz que terei que tomar vitamina B12 na veia e não vou alcançar bons resultados na academia. Pelo que eu li no texto acima, me parece que isso é um mito. Entretanto, me desculpem a sinceridade, mas todos os vegetarianos que conheço são magros e abatidos (será que eles se alimentam de maneira inadequada?), só sei que eu não quero ficar assim, eu quero ficar "sarada" rs. O que posso ingerir em substituição a carne vermelha, peixe e frango para alcançar bons resultados com a musculação?

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    1. Taciana, vou procurar publicar algo sobre esse assunto em breve... Aguarde!

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    2. Procure um nutricionista especializado em dieta vegetariana. Alimentação vegetariana virou tabu já... Recomendo dieta ayurveda!
      A questão da vitamina B12 também gera medo, mas na realidade muitas pessoas que se alimentam de derivados animais têm deficiência dessa vitamina.
      Não fique receosa de experimentar uma dieta sem derivados animais, vai perceber que vc ficará muito mais feliz!

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  3. Adorei o artigo do Dr. Eric.
    Estou fazendo uma pesquisa para uma apresentação sobre vegetarianismo em um evento na universidade na qual estudo e fiquei com uma dúvida em relação a tabela de proteína: qual é a quantidade, em gramas, daqueles alimentos?
    Agradeço desde já!

    Obs: adoro o cantinho vegetariano, tanto as receitas quanto os artigos sempre são 10!

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    1. Gabii, infelizmente não sei responder a sua pergunta. Creio que você possa esclarecer sua dúvida diretamente com o dr. Eric, no site www.alimentacaosemcarne.com.br. Abraço!

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    2. Olá. Preste atenção no seguinte, a tabela está em %, assim sendo, a cada 100g de carne de frango, por exemplo, 48,5 g serão de proteínas, o resto é água, gorduras ...

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    3. Obrigada pelo esclarecimento, Mauro... Na verdade, me sinto até envergonhada por não ter "enxergado" isso antes. Abraço!

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Obrigada por visitar o Cantinho Vegetariano e deixar um comentário... Tentarei responder o mais breve possível.

Atenção!!!

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