Soja só para mulheres?

Estudo da tradicional Universidade Harvard, nos Estados Unidos, coloca um ícone da dieta saudável sob suspeita de prejudicar o organismo masculino. Afinal, homens deveriam bani-la do cardápio?

Soja só para mulheres?
A soja está no banco dos réus. E quem aponta o dedo acusador são cientistas da prestigiada Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Eles observaram em um grupo de voluntários o elo entre o consumo da leguminosa e a redução no número de espermatozoides. Será, então, que os homens em idade fértil deveriam expulsá-la da mesa?

Quem vive antenado nas notícias sobre nutrição provavelmente conhece a resposta: ainda é cedo para dar o veredicto. São necessárias outras pesquisas antes de chegar a uma conclusão dessas, pondera o epidemiologista Jorge Chavarro, ninguém menos que o líder da tal investigação. Ele mesmo, aliás, não cortou o alimento da dieta. Só não como soja com maior freqüência porque não gosto do sabor, confessa.

O urologista Renato Fraietta, do grupo de reprodução humana da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp, faz uma leitura bastante cautelosa do trabalho americano: A diminuição dos espermatozoides foi observada principalmente entre os participantes que estavam acima do peso, ressalva. O que teria a ver a soja com a obesidade e a quantidade reduzida das células sexuais? Antes de qualquer explicação, vale destacar um de seus principais componentes, a isoflavona. Ela funciona como uma espécie de hormônio feminino, explica Fraietta. Sim, uma vez no organismo inclusive no deles , a isoflavona consegue a proeza de imitar o estrógeno. Daí ter ficado célebre como protetora contra tumores de útero e de mama nas mulheres, além de alternativa para aliviar os sinais da menopausa.

Ocorre que o elo entre infertilidade masculina e os quilos extras também tem um quê hormonal. Homens acima do peso tendem a sofrer um desequilíbrio nos hormônios, diz Fraietta. Neles, aumenta a produção de estrógeno. Essa elevação, por sua vez, interfere na espermatogênese, isto é, na formação das células sexuais masculinas, cuja tropa acaba despencando. E aí o consumo da soja, carregada do seu pseudo-hormônio, seria comparável a um empurrão ladeira abaixo.

A pesquisadora Mercedes Carrão Panizzi, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, estuda a soja há mais de 30 anos e conta que vira e mexe a leguminosa é depreciada. Não podemos nos esquecer de que ela guarda nutrientes importantes, como proteínas, diz.

A nutricionista Martine Hagen, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, compartilha essa opinião. Não faltam pesquisas atestando que seu consumo é benéfico, afirma, lembrando as diversas evidências de que incluí-la no cardápio ajuda a diminuir o risco de doenças cardiovasculares. Só no Medline, uma biblioteca virtual que reúne trabalhos científicos, há nada menos que 475 estudos realizados de três décadas para cá apontando essa relação.

Já a tal faceta negativa para os homens desponta em pouquíssimas pesquisas. Além desse estudo de Harvard, só conheço outros dois realizados com seres humanos que mostram uma possível interferência desse grão no organismo deles, diz o bioquímico José Marcos Mandarino. Ele também trabalha na Embrapa e faz questão de lembrar: Nenhum desses trabalhos é conclusivo.

A nutricionista Cynthia Antonaccio, da Equilibrium Consultoria em Nutrição, em São Paulo, outra estudiosa do assunto, acha que não dá para extrapolar os resultados encontrados pelos americanos para a população em geral. O tamanho da amostra é pequeno. Trata-se de um grupo de 99 homens, pontua. Engrossando o coro, a nutricionista Vanderlí Marchiori, da Associação Paulista de Nutrição, chama a atenção para o fato de os voluntários de Harvard terem sido recrutados em uma clínica de reprodução. Se estavam ali é porque já buscavam ajuda para se tornarem pais, deduz.

Em que acreditar? Ainda que faltem muitos dados para pôr uma pedra na questão, o bom senso recomenda que não se exagere. Essa, aliás, é a regra que vale para homens e mulheres e que deveria nortear qualquer assunto relacionado a nutrição. Até mesmo nos casos dos alimentos que pareciam acima de qualquer suspeita.

Fonte: Revista Saúde

Um comentário:

  1. Essa pesquisa é interessante, pois tinha dúvidas em relação a este efeito da soja, entretanto, realmente o estudo é bastante enviesado, afinal, como tentar relacionar soja com queda na produção de espermatozoides e recrutar os voluntários em uma clínica de reprodução? O design do estudo já é mal feito começando por aí! Além disso, parecem não ter controlado características fisiológicas similares nos voluntários, como peso!

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